De acordo com a física, o som é produzido por vibrações regulares de um objeto elástico, o que gera ondas mecânicas que se propagam através do ar e de objetos. Uma das características do som regular é a frequência, que determina a sua altura (ou afinação). O timbre (qualidade que distingue a fonte sonora) de cada som é determinado pelos harmônicos (notas que vibram juntamente com a principal), e esses são produzidos tanto pelo instrumento/voz produtor do som principal, como também por quaisquer outros objetos no ambiente que vibrem na mesma frequência da nota fundamental do som, ou de qualquer outro harmônico produzido pelo instrumento principal, e dos harmônicos do corpo de quem os ouve, inclusive.
Se cada som é a combinação entre diversos outros, os do ambiente, e os de quem os ouve, podemos dizer que o som nunca é igual?
No instante que alguém toca uma nota com um instrumento, aquela nota é uma; alguns minutos depois o mesmo instrumento é tocado, e a nota será outra, por que o ambiente já não é o mesmo. O ar mudou, as pessoas mudaram, algo na rua produz um ruído que não existia antes. O corpo de quem toca está diferente, a respiração está solta... Duas pessoas a mais estão no ambiente. Tudo muda, nada é eternamente constante.
A música também somos nós, e é o ambiente. A música é o instrumento, a cadeira, o violino, o arco, o regente, o cantor, a plateia, o ar, eu e você. E se todos nós somos parte da música, ela é apenas o que está escrito?
Four minutes, thirty-three seconds (quatro minutos e trinta e três segundos) é uma peça em 3 movimentos, do compositor american John Cage, escrita em 1952 para vários instrumentos, e sua partitura indica a execução "não executada". A música consiste no ambiente, sem instrumentos. No instante da sua execução, os músicos são levados a não tocar, e a plateia ouvirá somente a si e ao ambiente, sem nenhuma restrição de ritmo, métrica, harmonia, compasso, ou qualquer outra ordem da teoria musical tradicional.
Enjoy the silence.