A Existência de um ser supremo
Os indígenas brasileiros que acreditam na existência de
um ser supremo e criador do universo são minoria. Entre eles estão os
“Apapokúva” (Ñandéva), os quais acreditam que Nyanderuvusú criou a Terra e que
será seu destruidor.
A maioria dos
índios brasileiros acredita em heróis míticos, que ensinaram as regras sociais
aos membros da tribo. É comum esses heróis se apresentarem como um par de
irmãos, por exemplo, entre os índios do tronco linguístico Tupí, eles são
irmãos gêmeos nascidos da mesma mãe, embora tenham pais diferentes. Entre os
Kamayurá podem ser identificados como Sol e Lua.
É importante
ressaltar a variação entre as crenças das diversas tribos indígenas.
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Representação de Tupã* |
Ao contrário do
que muita gente pensa, Tupã não é a principal divindade indígena. É um demônio
da mitologia Tupí que tem o domínio do raio e do trovão, por isso pode provocar
mortes e destruição. Os missionários ao ensinarem a doutrina cristã aos índios,
relacionaram o conceito cristão de Deus com o termo Tupã, daí o equívoco.
O
conceito de Alma
Geralmente, em todas as tribos indígenas se crê que cada
homem possui um espírito. Mas a noção de alma difere da noção cristã assim como
varia entre as diversas tribos.
Os Kaingáng
acreditam que após a morte, a pessoa rejuvenesce e vive outra vida. Depois ele
morre e transforma-se num pequeno inseto, quando esse inseto morre não resta
mais nada do indivíduo.
Para os Guaraní,
a alma é múltipla. Eles estão divididos em três subgrupos:
Os Nandéva acreditam que cada indivíduo tem duas ou três
almas, visíveis na forma de sombras. A primeira vai para o Céu, ela é
responsável pelas maiores virtudes do indivíduo, além de lhe conferir o dom da
linguagem, sua sede é o peito da pessoa. A segunda fica vagueando no ar, não
faz mal a ninguém. A terceira fica vagueando no chão, vai para o cemitério e é
ruim. Representa o lado animal da pessoa, sua sede é a parte interior do rosto,
o desejo por determinados alimentos são manifestações dessa alma, os vivos
temem encontrá-la quando pertencente a um morto. A primeira e asegunda alma
podem reencarnar. Sobre a segunda, existem poucas informações.
Mbüá acreditam que cada indivíduo possui duas almas boas
e uma ruim. Uma das almas boas é responsável pela segurança da pessoa. A outra
alma boa e a ruim são responsáveis pelas manifestações de outras pessoas que
estão perto ou longe. A sede de todas elas é o corpo todo. Elas não podem se
retirar todas ao mesmo tempo do corpo, podendo causar a morte. Após a morte, a
alma ruim fica vagando pela terra. A parte boa vai para o Céu, ou fica
esperando até a decomposição total do corpo, devido aos pecados. Os Mbüá não
acreditam em reencarnação.
Kayová acreditam que a alma possui uma parte boa que já
nasce com ele, e a parte menos boa se
desenvolve durante a existência do indivíduo. Só as almas das crianças que
morreram podem reencarnar.
Médico-feiticeiros
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Representação de Xamã Guarani durante ritual** |
Os médico-feiticeiros são os responsáveis por curar as
doenças através de práticas mágicas e também podem provocá-las, por isso é
comum culpá-lo pela morte de alguém. Suas práticas variam muita de uma
sociedade para outra. Existe uma categoria chamada de Xamãs que é dividida em
dois subgrupos: O Xamã Viajante,
cuja alma sai do corpo para o mundo do além, durante esse processo suas funções
vitais diminuem. Por exemplo, o pancé dos
índios Tapirapé entra em transe na cerimônia do trovão, quando se acredita que
ele tenha sido abatido por um ser sobrenatural, então a alma abandona o corpo e
vai até a casa do trovão. Ele procura o transe nessa cerimônia ou ainda quando
é noviço e tenta ser xamã. Já o Xamã
possesso é aquele que incorpora um espírito estranho, durante o transe
ele se mostra agitado, movimenta-se de modo esquisito, manifesta poder fora do
comum. Por exemplo, o pazé dos Tenetehára entra em transe quando é possuído por
um ser sobrenatural, ele procura esse ritual quando quer curar alguém ou fazer
o feitiço por outros motivos.
ÍNDIOS DO BRASIL. MELLATI, Julio Cezar, 1998. 3 Ed. São Paulo: HUCITEC [Brasília]. 1998.