segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cipó - 3. Religião


A Existência de um ser supremo

Os indígenas brasileiros que acreditam na existência de um ser supremo e criador do universo são minoria. Entre eles estão os “Apapokúva” (Ñandéva), os quais acreditam que Nyanderuvusú criou a Terra e que será seu destruidor.

A maioria dos índios brasileiros acredita em heróis míticos, que ensinaram as regras sociais aos membros da tribo. É comum esses heróis se apresentarem como um par de irmãos, por exemplo, entre os índios do tronco linguístico Tupí, eles são irmãos gêmeos nascidos da mesma mãe, embora tenham pais diferentes. Entre os Kamayurá podem ser identificados como Sol e Lua.

É importante ressaltar a variação entre as crenças das diversas tribos indígenas.

Representação de Tupã*
Ao contrário do que muita gente pensa, Tupã não é a principal divindade indígena. É um demônio da mitologia Tupí que tem o domínio do raio e do trovão, por isso pode provocar mortes e destruição. Os missionários ao ensinarem a doutrina cristã aos índios, relacionaram o conceito cristão de Deus com o termo Tupã, daí o equívoco.

O conceito de Alma

Geralmente, em todas as tribos indígenas se crê que cada homem possui um espírito. Mas a noção de alma difere da noção cristã assim como varia entre as diversas tribos.

Os Kaingáng acreditam que após a morte, a pessoa rejuvenesce e vive outra vida. Depois ele morre e transforma-se num pequeno inseto, quando esse inseto morre não resta mais nada do indivíduo.

Para os Guaraní, a alma é múltipla. Eles estão divididos em três subgrupos:
Os Nandéva acreditam que cada indivíduo tem duas ou três almas, visíveis na forma de sombras. A primeira vai para o Céu, ela é responsável pelas maiores virtudes do indivíduo, além de lhe conferir o dom da linguagem, sua sede é o peito da pessoa. A segunda fica vagueando no ar, não faz mal a ninguém. A terceira fica vagueando no chão, vai para o cemitério e é ruim. Representa o lado animal da pessoa, sua sede é a parte interior do rosto, o desejo por determinados alimentos são manifestações dessa alma, os vivos temem encontrá-la quando pertencente a um morto. A primeira e asegunda alma podem reencarnar. Sobre a segunda, existem poucas informações.

Mbüá acreditam que cada indivíduo possui duas almas boas e uma ruim. Uma das almas boas é responsável pela segurança da pessoa. A outra alma boa e a ruim são responsáveis pelas manifestações de outras pessoas que estão perto ou longe. A sede de todas elas é o corpo todo. Elas não podem se retirar todas ao mesmo tempo do corpo, podendo causar a morte. Após a morte, a alma ruim fica vagando pela terra. A parte boa vai para o Céu, ou fica esperando até a decomposição total do corpo, devido aos pecados. Os Mbüá não acreditam em reencarnação.

Kayová acreditam que a alma possui uma parte boa que já nasce com ele, e  a parte menos boa se desenvolve durante a existência do indivíduo. Só as almas das crianças que morreram podem reencarnar.

Médico-feiticeiros

Representação de Xamã Guarani durante ritual**
Os médico-feiticeiros são os responsáveis por curar as doenças através de práticas mágicas e também podem provocá-las, por isso é comum culpá-lo pela morte de alguém. Suas práticas variam muita de uma sociedade para outra. Existe uma categoria chamada de Xamãs que é dividida em dois subgrupos: O Xamã Viajante, cuja alma sai do corpo para o mundo do além, durante esse processo suas funções vitais diminuem. Por exemplo, o pancé dos índios Tapirapé entra em transe na cerimônia do trovão, quando se acredita que ele tenha sido abatido por um ser sobrenatural, então a alma abandona o corpo e vai até a casa do trovão. Ele procura o transe nessa cerimônia ou ainda quando é noviço e tenta ser xamã. Já o Xamã possesso é aquele que incorpora um espírito estranho, durante o transe ele se mostra agitado, movimenta-se de modo esquisito, manifesta poder fora do comum. Por exemplo, o pazé dos Tenetehára entra em transe quando é possuído por um ser sobrenatural, ele procura esse ritual quando quer curar alguém ou fazer o feitiço por outros motivos.

*Imagem de "Blog Chakaruna". Disponível em <http://hernehunter.blogspot.com.br/2011/08/se-deus-fosse-jaguar.html> Último acesso em 22 abr 2012
**Imagem de "Erva Mate Online". Disponível em <http://ervamateonline.vilabol.uol.com.br/body_lenda.htm> Último acesso em 22 abr 2012
ÍNDIOS DO BRASIL. MELLATI, Julio Cezar, 1998. 3 Ed. São Paulo: HUCITEC [Brasília]. 1998.

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