Na nossa sociedade, é comum dependermos
dos cuidados da nossa família até idade avançada. Uns permanecem com ela por
necessidade, outros por vontade. A nossa passagem para a vida adulta há muito
perdeu uma idade próxima. Crianças desempenham atividades de adultos, adultos
comportam-se como crianças, os valores se perdem e acabamos, muitas vezes, não
adquirindo as habilidades necessárias para um desenvolvimento físico e
psicológico saudável, que nos proporcione uma visão de mundo mais vasta, nos
prepare para a vida em sociedade e nos torne indivíduos maduros e capazes.
Dentre os indígenas o
“amadurecimento” do adolescente é marcado por rituais, que muitas vezes testam
sua resistência física e fé nos costumes e crenças do seu povo. Conhecidos como
rituais de passagem, são realizados conforme tradições que seguem através de
séculos, sem mudanças notáveis, e em conformidade com os recursos que a
natureza lhes dispõe para a realização. Nos rituais de passagem são usados
frutos, corantes naturais, pedaços de madeira da flores, flores, adornos,
insetos, partes de animais, instrumentos musicais confeccionados manualmente,
entre outros...
O
ritual da Tocandira
As formigas tocandiras são
recolhidas e guardadas presas no interior de um colmo de taquaraçu, conhecido
como tuntum. Permanecem no recipiente por horas, com pouca iluminação e
respiração. No dia da realização do ritual elas são jogadas na água para que
sejam lavadas e se acalmem. Centenas delas são presas em luvas de palha, com o
abdome para dentro (onde fica o ferrão).
São preparadas caças e
bebidas inebriantes à base de frutas. Ao se iniciar o ritual, moças e os pais
dos rapazes a passarem pelo ritual carregam as bebidas, a comida e as luvas com
as formigas.
Posicionados em círculo,
sentam-se as mulheres no centro, em um círculo menor, e os homens no de fora. O
chefe sinaliza o início do ritual, que é conduzido com cantos, assovios e toques
de taquara. As luvas com as formigas venenosas são então vestidas nas mãos do
rapaz, e atiçadas com a fumaça de um cigarro ou charuto de tauari, fumado pelo
chefe. O jovem inicia sua dança, com os aplausos daqueles que compõem o ritual,
e esse só será encerrado no instante em que uma moça retire dele as luvas com
formigas. Esta será a sua esposa, e então o adolescente agora é considerado um
homem, devendo sair da vigília dos pais, os quais perdem a responsabilidade
sobre ele. Caso nenhuma moça cumpra com o ritual, o chefe poderá retirar as
luvas e libertar as formigas.
O ritual tem como
característica a “imunização” espiritual do rapaz. Uma vez que as formigas
tocandiras são usadas na medicina indígena para o tratamento de doenças, são
tidas como divindades capazes de curar males. Doentes são expostos à sua
picada, que inocula ácidos capazes de curar infecções.
A
tocandira
Tocandira (Paraponera clavata) com quase 3cm de comprimento.** |
A tocandira Paraponera clavata é uma formiga com em
média 25mm, de cor preta, hábitos noturnos e presente na Amazônia. É dotada de
um veneno extremamente poderoso. No ser humano o seu veneno causa diversas
reações, dentre elas: manchas e calombos na pele, dor extrema e profunda, mal-estar,
e vômitos. A dor persiste por até 48 horas, se manifestando em períodos
constantes.
Recomendações de material
Fonte: JANGADA BRASIL, A dança da tocandira. Disponível em <http://www.jangadabrasil.com.br/revista/setembro104/fe10409.asp> Último acesso em 19 abr 2012
*Imagem de "Blog Guri da Fazenda". Disponível em <http://guridafazenda.blogspot.com.br/2010/08/comemoracao.html> Último acesso em 19 abr 2012
**Imagem de "Bio Mania". Disponível em <http://www.biomania.com.br/bio/images/img_releases/0tocandira.jpg> Último acesso em 19 abr 2012
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