sábado, 21 de abril de 2012

Cipó - 2. Ritos - 2.1 Dança da tocandira


Na nossa sociedade, é comum dependermos dos cuidados da nossa família até idade avançada. Uns permanecem com ela por necessidade, outros por vontade. A nossa passagem para a vida adulta há muito perdeu uma idade próxima. Crianças desempenham atividades de adultos, adultos comportam-se como crianças, os valores se perdem e acabamos, muitas vezes, não adquirindo as habilidades necessárias para um desenvolvimento físico e psicológico saudável, que nos proporcione uma visão de mundo mais vasta, nos prepare para a vida em sociedade e nos torne indivíduos maduros e capazes.

Dentre os indígenas o “amadurecimento” do adolescente é marcado por rituais, que muitas vezes testam sua resistência física e fé nos costumes e crenças do seu povo. Conhecidos como rituais de passagem, são realizados conforme tradições que seguem através de séculos, sem mudanças notáveis, e em conformidade com os recursos que a natureza lhes dispõe para a realização. Nos rituais de passagem são usados frutos, corantes naturais, pedaços de madeira da flores, flores, adornos, insetos, partes de animais, instrumentos musicais confeccionados manualmente, entre outros...

O ritual da Tocandira

As formigas tocandiras são recolhidas e guardadas presas no interior de um colmo de taquaraçu, conhecido como tuntum. Permanecem no recipiente por horas, com pouca iluminação e respiração. No dia da realização do ritual elas são jogadas na água para que sejam lavadas e se acalmem. Centenas delas são presas em luvas de palha, com o abdome para dentro (onde fica o ferrão).
São preparadas caças e bebidas inebriantes à base de frutas. Ao se iniciar o ritual, moças e os pais dos rapazes a passarem pelo ritual carregam as bebidas, a comida e as luvas com as formigas.

Jovem Mawé durante o ritual. Na sua mão está a 
"luva" de palha com dezenas de formigas tocandiras.
Os participantes do ritual dançam e cantam ao seu 
redor, enquanto o jovem aguarda que uma moça retire 
a luva e pare as formigas.*
Posicionados em círculo, sentam-se as mulheres no centro, em um círculo menor, e os homens no de fora. O chefe sinaliza o início do ritual, que é conduzido com cantos, assovios e toques de taquara. As luvas com as formigas venenosas são então vestidas nas mãos do rapaz, e atiçadas com a fumaça de um cigarro ou charuto de tauari, fumado pelo chefe. O jovem inicia sua dança, com os aplausos daqueles que compõem o ritual, e esse só será encerrado no instante em que uma moça retire dele as luvas com formigas. Esta será a sua esposa, e então o adolescente agora é considerado um homem, devendo sair da vigília dos pais, os quais perdem a responsabilidade sobre ele. Caso nenhuma moça cumpra com o ritual, o chefe poderá retirar as luvas e libertar as formigas.

O ritual tem como característica a “imunização” espiritual do rapaz. Uma vez que as formigas tocandiras são usadas na medicina indígena para o tratamento de doenças, são tidas como divindades capazes de curar males. Doentes são expostos à sua picada, que inocula ácidos capazes de curar infecções.

A tocandira

Tocandira (Paraponera clavata) com quase
3cm de comprimento.**
A tocandira Paraponera clavata é uma formiga com em média 25mm, de cor preta, hábitos noturnos e presente na Amazônia. É dotada de um veneno extremamente poderoso. No ser humano o seu veneno causa diversas reações, dentre elas: manchas e calombos na pele, dor extrema e profunda, mal-estar, e vômitos. A dor persiste por até 48 horas, se manifestando em períodos constantes.

Recomendações de material





Fonte: JANGADA BRASIL, A dança da tocandira. Disponível em <http://www.jangadabrasil.com.br/revista/setembro104/fe10409.asp> Último acesso em 19 abr 2012
*Imagem de "Blog Guri da Fazenda". Disponível em <http://guridafazenda.blogspot.com.br/2010/08/comemoracao.html> Último acesso em 19 abr 2012
**Imagem de "Bio Mania". Disponível em <http://www.biomania.com.br/bio/images/img_releases/0tocandira.jpg> Último acesso em 19 abr 2012

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