Por convenção, numa tentativa da sociedade de se redimir pelas barbáries cometidas pelos nossos antepassados, comemoramos hoje o "dia do índio".
É notável a mobilização na sociedade... São feitas propagandas na televisão, na internet e nos jornais as notícias são sobre eles. Nossas crianças aprendem hoje, mais do que em qualquer outro dia do ano quem é o nosso índio: criatura selvagem, de hábitos repulsivos e costumes duvidosos. Vestem-se de sainha e cocar, quando não andam nus; não conhecem tecnologia... Energia elétrica é bicho diferente. Carregam sempre um arco-e-flecha, pro caso de encontrarem um homem "civilizado" pelo meio da mata, meterem-lhe a flechada no coração.
Se aparecer um avião sobrevoando a sua "oca", os tadinhos atirarão para cima numa tentativa desesperada de derrubar o grande pássaro metálico. Ora, não é pássaro metálico, pois esses selvagens nem sequer conhecem os metais!
Mas se há algo que os índios sabem é dançar. Eita povo boa-vida, passa o dia fazendo festa. Pra tudo tem festa. Há uma esquisitice inegável nessas festas: comem qualquer bicho.
Coisa de gente selvagem comer bicho da mata, pois gente que é gente come animal de corte, como se também não fosse bicho (é produto, não ser vivo).
E a nossa sociedade civilizada, que sabe, alega e bate nos peitos para dizer que a língua é o maior traço cultural de um povo, diz que índio é tudo uma coisa só -falam todos a mesma língua, quando sabem falar.
E esse povo sem civilização, também é sem pátria. Chegaram os europeus aqui e deram nome à terra, trouxeram progresso e civilidade. Ensinaram-lhe os bons costumes, e os que os rejeitassem eram castigados em nome da moral. O Brasil é nosso! É do branco. Índio tem que viver recluso no mato, plantando macaxeira e caçando capivara. Não é povo da gente, é criatura do mato que vive em território brasileiro.
Parabéns a essa exaltada sociedade do conhecimento, onde quanto mais se conhece, menos se sabe. Dia de valorizar o povo indígena e sua cultura não é 19 de abril, são todos os dias. Uma sociedade que não respeita as suas origens nega seu presente, e destrói a história; continuam cometendo um absurdo parricídio.
Dgershon C. Câmara
*Imagem de "Blog do Vinícius". Disponível em <http://viniciusfr.blogspot.com.br/2010/07/novela-e-o-indio.html> Último acesso em 19 abr 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário