terça-feira, 24 de abril de 2012

Cipó - Considerações finais

O desenvolvimento da pesquisa nos esclareceu diversas dúvidas, bem como trouxe à tona a importância e presença da cultura indígena para nós. Descobrimos que os índios estão muito mais presentes na nossa realidade do que imaginávamos, são muito além do que as revistas, a internet, a televisão e os livros de história mostram. Descobrimos a nossa culpa e responsabilidade na manutenção da sobrevivência da cultura indígena, e como é valioso conviver em harmonia com esse povo tão nosso.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Cultura Brasileira. Comunicação Social - Jornalismo, 2012.1
Profª Maria Iglê

Alice Oliveira
Ana Clara Dantas
Dgershon Câmara
Francisca Olga
Isadora Beatriz
Jeanderson Moura
Jefferson Bernardino
José Júnior
Paulo Rodrigo
Taís Ramos

*Recortes de pinturas da aluna Carla Beatriz.

Cipó - 9. Mitos (parte 2 de 2)


Continuando o tema dos mitos indígenas, trazemos agora a segunda e última parte do assunto. Este é um conto também bastante conhecido em todo o Brasil. Fala sobre a origem um dos pássaros com um dos mais belos cantos de todos: o uirapuru. Assim como no mito anterior, a imagem de Tupã se faz presente neste também, assim como também o romantismo e a magia. Existem outras versões da história, mas deixaremos aqui uma das mais famosas.

“Uirapuru – O Canto Encantado”

Em uma certa tribo, um jovem, não muito belo, era admirado por todas as jovens por tocar muito bem sua flauta. Deram a ele então o nome de Catuboré, que significa “flauta encantada”. Dentre todas as moças da tribo, a única que realmente conquistou seu coração foi a bela Mainá.



Os dois iriam se casar na primavera, e por isso estavam muito felizes. Um certo dia, Catuboré saiu para caçar. Mainá ficou esperando por ele, mas Catuboré não voltava. Por causa de sua demora, toda a tribo foi procurar o jovem rapaz. Depois de muita busca, acabaram encontrando-o sem vida, embaixo de uma árvore. Havia sido picado por uma cobra peçonhenta. Ele foi sepultado no mesmo local onde foi encontrado.



Mainá ficou aos prantos. Passava horas lamentando aos prantos a perda de seu amado. A alma de Catuboré lamentava profundamente o sofrimento de sua noiva, não encontrando assim paz. Resolveu então pedir ajuda a Tupã, que transformou então a alma do jovem no pássaro uirapuru, que assim como Catuboré era quando vivo, possui escassa beleza, porém, um canto maravilhoso, que se assemelha ao som da flauta tocada pelo jovem. Isso fez com que Mainá se alegrasse. Até hoje o canto do uirapuru encanta os outros pássaros e seres da natureza.

Cipó - 8. Mitos (parte 1 de 2)

A cultura indígena sempre foi rica quando nos referimos aos mitos. Na verdade, pode-se dizer que praticamente tudo o que acontece no mundo tem uma razão espiritual para os índios. Porém, existem algumas lendas que atravessaram a barreira do mundo indígena e chegaram até os homens das cidades, tornado-se assim bastante difundidas. Nessa primeira parte do texto sobre o assunto, veremos uma lenda que se tornou famosa para algumas pessoas tanto pelo seu romantismo como também pela sua magia.

“Potyra – As Lágrimas de Diamantes”

Em uma pequena aldeia indígena existia uma jovem e linda indiazinha chamada Potyra. Vários jovens da tribo, encantados com a beleza da moça, desejavam tê-la como esposa. Porém, o coração de Potyra pertencia somente ao jovem guerreiro Itagibá, o braço de pedra. Enquanto aguardavam a idade para poderem se unir de fato, os dois procuravam sempre se encontrar a beira do rio para trocarem juras de amor.



Ao chegar à idade do casamento, Itagibá conseguiu sua condição oficial de guerreiro. Os dois se casaram e foram viver suas vidas juntos, como tanto desejavam. Todas as vezes em que Itagibá saia da tribo para caçar, Potyra ficava esperando ansiosa reencontrar seu amado, e essas curtas separações acabavam deixando os dois ainda mais unidos.
Até que certa vez a tribo foi atacada por inimigos. Itagibá e os outros guerreiros partiram para a guerra, descendo rio abaixo com suas canoas. Potyra via o seu amado indo embora, mas não sabia o que sentia realmente vendo-o partir.

Então, depois disso, Potyra ia todos os dias se sentar à beira do rio esperando a volta de Itagibá, com um olhar de ansiedade, tristeza e saudade. O tempo passou, até que um dia foi anunciado que Itagibá não voltaria, pois tinha sido morto na guerra. Potyra ficou desolada. Começou a chorar desesperadamente e foi até a beira do rio. E ficou lá, chorando, todos os dias sem falar nada. Apenas soluçando e derramando suas lágrimas no rio.
Vendo a tristeza da jovem, Tupã, o deus dos raios, se sensibilizou, e fez com que suas lágrimas se transformassem em diamantes. Esses diamantes foram aasim levados pela correnteza do rio, chegando até a sepultura de Itagibá, como prova do eterno amor de Potyra.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cipó - 7. Vídeo - Afinal, o que é CULTURA?

Cipó - 6. Gastronomia Tupi


Mulher prepara peixe e tapioca*
A culinária brasileira, assim como outros componentes da nossa cultura, sofreu influências das diversas matrizes que compõem o nosso povo, sendo uma delas a matriz tupi, que é composta por todos os povos indígenas cujo tronco linguístico é a língua Tupi.

A gastronomia tupi é alicerçada na caça, na pesca e na coleta de subsistência, o que a torna totalmente dependente da natureza e de seus ciclos. Por isso é curioso notar entre esses povos uma noção do tempo de reposição de espécies, principalmente animais de pelo e aves, essa noção é externada através de tabus alimentares, ganhando uma conotação mística.

É possível perceber que nas aldeias o trabalho
acontece de forma coletiva, solidária.*
Algumas tribos praticam a agricultura,o que acarreta uma maior segurança alimentar para seus integrantes, constroem seus roçados na mata, utilizando a técnica da derrubada e da queimada. Esses indígenas foram responsáveis pela domesticação de diversas plantas, sendo digna de nota a domesticação da mandioca, nas palavras de Darcy Ribeiro, “uma façanha extraordinária”, devido à necessidade de tratamento especial para a retirada do ácido cianídrico, veneno mortífero, presente nesse vegetal. Os derivados da mandioca, como a farinha, o beiju e ocauim, constituem a base da dieta alimentar de vários povos da matriz tupi.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 10 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
SEKI, Lucy. JeneRemyjwena Juru Pytsaret: o que habitava a boca de nossos ancestrais.1 ed. Rio de Janeiro: Museu do Índio, 2010.
*Imagens do arquivo da Professora Raimunda.

Cipó - 5. Curiosidades


  1. Os índios preparavam bebidas alucinógenas com finalidade anestésica e elas eram utilizadas, principalmente, em rituais especiais; 
  2. O número atual de etnias indígenas é superior ao número de línguas; 
  3. Os povos indígenas creem, no geral, que as doenças são causadas por alterações espirituais; 
  4. Para algumas tribos, as plantas vermelhas curam as doenças do sangue, as plantas amarelas curam a bile, o fígado. As cascas vermelhas ou marrom-escuras são usadas contra a erisipela e tumores; 
  5. Atualmente, existem apenas dois estados brasileiros onde não vivem populações indígenas reconhecidas: o Piauí e o Rio Grande do Norte; 
  6. Ainda utilizamos diversas palavras provenientes do vocabulário indígena, tais como: cipó, abacaxi, tamanduá e arapuca; 
  7. Os índios não praticavam o canibalismo, e sim a antropofagia. Ou seja, comiam carne humana não para matar a fome, o faziam apenas para absorver as qualidades do espírito de quem comiam; 
  8. Não se sabe ao certo como os índios vieram parar em solo brasileiro. Entretanto, pesquisas apontam que os primeiros sinais de povoamento indígena no Brasil datam aproximadamente 48 mil anos atrás; 
  9. Os povos indígenas não tinham o costume de tomar leite, nem no mingau ele estava presente; 
  10. Usavam-se diversos tipos de pimenta nas comidas. Ou comia-se juntamente com outros alimentos, ou eram utilizadas como tempero; 

Fontes:
http://www.turminha.mpf.gov.br/nossa-cultura/dia-do-indio http://www.brasilescola.com/cultura/cultura-indigena.htm

Cipó - 4. Artesanato Indígena


A arte indígena

Pinturas Corporais Tupi: Eram feitas em homens e mulheres,
principalmente em rituais especiais.

A cultura indígena, no geral, sempre foi muito importante na formação da identidade contemporânea do povo brasileiro. Entender as suas raízes e sua complexidade é fundamental para que possamos conhecer a origem da nossa própria história. Muitos dos costumes e hábitos os quais temos hoje são provenientes dos povos indígenas – tomar banho diariamente e a unidade afetiva familiar, por exemplo – e, consequentemente, fazem parte da nossa cultura.

Os traçados eram fabricados pelas
índias adultas e ensinados às
crianças pela oralidade. Eram
objetos tanto de artesanato quanto de 
carácter utilitário.

Nesse contexto, a arte indígena é um elemento imprescindível ao falar de sua cultura. A cerâmica, o trançado, as cestas, músicas e pinturas corporais são alguns dos ícones que compõe essa grande diversidade de expressões artísticas. Entretanto, as palavras “arte” e “artesanato” são denominações atuais. Ao fazer sua arte, os índios apenas estavam buscando o culto à beleza.

A Cerâmica Indígena era mais uma
forma de arte que cultuava a
beleza.


As cestas eram feitas com folhas de árvores e, além do caráter usual, serviam também como objetos de ornamentação. As cerâmicas, do mesmo modo, eram utilizadas tanto para armazenas alimentos quanto para enfeite. As pinturas corporais eram feitas diariamente, contudo, em rituais especiais elas eram feitas em maior quantidade e com cores mais fortes. Era comum que os homens se enfeitassem mais que as mulheres e as crianças eram pintadas pelas mães até aprenderem as técnicas sozinhas.

 




Fotos: Alto Rio Negro - São Gabriel da Cachoeira, Amazônia. Fotografadas e cedidas pela professora Raimunda.

Cipó - 3. Religião


A Existência de um ser supremo

Os indígenas brasileiros que acreditam na existência de um ser supremo e criador do universo são minoria. Entre eles estão os “Apapokúva” (Ñandéva), os quais acreditam que Nyanderuvusú criou a Terra e que será seu destruidor.

A maioria dos índios brasileiros acredita em heróis míticos, que ensinaram as regras sociais aos membros da tribo. É comum esses heróis se apresentarem como um par de irmãos, por exemplo, entre os índios do tronco linguístico Tupí, eles são irmãos gêmeos nascidos da mesma mãe, embora tenham pais diferentes. Entre os Kamayurá podem ser identificados como Sol e Lua.

É importante ressaltar a variação entre as crenças das diversas tribos indígenas.

Representação de Tupã*
Ao contrário do que muita gente pensa, Tupã não é a principal divindade indígena. É um demônio da mitologia Tupí que tem o domínio do raio e do trovão, por isso pode provocar mortes e destruição. Os missionários ao ensinarem a doutrina cristã aos índios, relacionaram o conceito cristão de Deus com o termo Tupã, daí o equívoco.

O conceito de Alma

Geralmente, em todas as tribos indígenas se crê que cada homem possui um espírito. Mas a noção de alma difere da noção cristã assim como varia entre as diversas tribos.

Os Kaingáng acreditam que após a morte, a pessoa rejuvenesce e vive outra vida. Depois ele morre e transforma-se num pequeno inseto, quando esse inseto morre não resta mais nada do indivíduo.

Para os Guaraní, a alma é múltipla. Eles estão divididos em três subgrupos:
Os Nandéva acreditam que cada indivíduo tem duas ou três almas, visíveis na forma de sombras. A primeira vai para o Céu, ela é responsável pelas maiores virtudes do indivíduo, além de lhe conferir o dom da linguagem, sua sede é o peito da pessoa. A segunda fica vagueando no ar, não faz mal a ninguém. A terceira fica vagueando no chão, vai para o cemitério e é ruim. Representa o lado animal da pessoa, sua sede é a parte interior do rosto, o desejo por determinados alimentos são manifestações dessa alma, os vivos temem encontrá-la quando pertencente a um morto. A primeira e asegunda alma podem reencarnar. Sobre a segunda, existem poucas informações.

Mbüá acreditam que cada indivíduo possui duas almas boas e uma ruim. Uma das almas boas é responsável pela segurança da pessoa. A outra alma boa e a ruim são responsáveis pelas manifestações de outras pessoas que estão perto ou longe. A sede de todas elas é o corpo todo. Elas não podem se retirar todas ao mesmo tempo do corpo, podendo causar a morte. Após a morte, a alma ruim fica vagando pela terra. A parte boa vai para o Céu, ou fica esperando até a decomposição total do corpo, devido aos pecados. Os Mbüá não acreditam em reencarnação.

Kayová acreditam que a alma possui uma parte boa que já nasce com ele, e  a parte menos boa se desenvolve durante a existência do indivíduo. Só as almas das crianças que morreram podem reencarnar.

Médico-feiticeiros

Representação de Xamã Guarani durante ritual**
Os médico-feiticeiros são os responsáveis por curar as doenças através de práticas mágicas e também podem provocá-las, por isso é comum culpá-lo pela morte de alguém. Suas práticas variam muita de uma sociedade para outra. Existe uma categoria chamada de Xamãs que é dividida em dois subgrupos: O Xamã Viajante, cuja alma sai do corpo para o mundo do além, durante esse processo suas funções vitais diminuem. Por exemplo, o pancé dos índios Tapirapé entra em transe na cerimônia do trovão, quando se acredita que ele tenha sido abatido por um ser sobrenatural, então a alma abandona o corpo e vai até a casa do trovão. Ele procura o transe nessa cerimônia ou ainda quando é noviço e tenta ser xamã. Já o Xamã possesso é aquele que incorpora um espírito estranho, durante o transe ele se mostra agitado, movimenta-se de modo esquisito, manifesta poder fora do comum. Por exemplo, o pazé dos Tenetehára entra em transe quando é possuído por um ser sobrenatural, ele procura esse ritual quando quer curar alguém ou fazer o feitiço por outros motivos.

*Imagem de "Blog Chakaruna". Disponível em <http://hernehunter.blogspot.com.br/2011/08/se-deus-fosse-jaguar.html> Último acesso em 22 abr 2012
**Imagem de "Erva Mate Online". Disponível em <http://ervamateonline.vilabol.uol.com.br/body_lenda.htm> Último acesso em 22 abr 2012
ÍNDIOS DO BRASIL. MELLATI, Julio Cezar, 1998. 3 Ed. São Paulo: HUCITEC [Brasília]. 1998.

domingo, 22 de abril de 2012

Cipó - 2. Ritos - 2.2 Quarup


O Quarup é um ritual voltado para a homenagem aos mortos ilustres, realizado pelos povos indígenas do Alto Xingu. É um dos mais importantes e emblemáticos rituais dessa região e pode acontecer sempre que morre um chefe ou parente de um líder indígena, tentando colocar o morto homenageado no mesmo nível espiritual dos ancestrais. É um ritual também importante para a iniciação do jovem na vida adulta, que passa um ano recluso, se dedicando a vários rituais preparatórios, no caso das mulheres.  Acontece, normalmente, no mês de agosto.

Apesar de todo o processo de degradação da cultura desses povos, imposta pela modernização e desvalorização dos hábitos indígenas, o Quarup sobrevive, sendo símbolo de tradição e resistência dos povos do Xingu.

Acredita-se que o ritual tem a sua origem fundada no objetivo de resgatar os mortos de volta para a vida. O rito é centrado na figura de Mawutzinin, considerado pela mitologia como o primeiro homem do mundo.

Tronco de Kuarup adornado para o ritual*
O ritual tem início com a chegada de índios provenientes de outras aldeias. Logo após, alguns deles se reúnem e vão até a mata, em busca de um tronco de Kuarup. Esse tronco é cortado e levado até a aldeia, onde será fincado no chão, sob uma cabana de palha construída em frente da chamada "casa dos homens". O tronco recebe uma decoração especial (penas e pinturas) e é iniciada uma cantoria em celebração ao "Morekwat" (chefe) homenageado. Depois dos preparativos iniciais, chegam os índios restantes, que se acomodam na periferia da aldeia. Monta-se uma fogueira em frente ao tronco e, em torno dela, acontecem cantos, danças, e lamentações. Um índio representante de cada grupo vai até a fogueira central e recolhe uma chama para acender a fogueira do seu grupo.

Segundo a tradição, o espírito do morto homenageado entra no Quarup e lá permanece até ser desenterrado e jogado no rio.

À noite, acontece o momento da ressurreição simbólica do chefe homenageado.  As carpideiras dão início ao choro ritual, que só termina com o raiar do sol.

Homens dançam**
Com o amanhecer, os grupos visitantes, que estavam acampados ao redor da aldeia, anunciam a sua chegada com gritos. Se dirigem para o pátio central e, assim, começa o ápice da cerimônia, chamada de luta huka-huka, em que os membros de uma tribo entram em combate com os membros de outra. Os homens fazem um grande círculo, batem os pés e cantam. As mulheres e crianças sentam-se em grupos separados, com os apetrechos usados para o almoço (troca de produtos entre as tribos). Também ocorrem competições entre os campeões de cada aldeia.

O chefe da aldeia, que sedia a cerimônia do Quarup, se ajoelha perante os chefes das outras aldeias, em sinal de boas vindas. Oferece peixe e biju, distribuídos entre os seus.

O ritual se encerra ,como descrito acima,com o lançamento do tronco às águas do rio.

*Imagem de "Blog Sinalyna". Disponível em <http://sinalyna.blogspot.com.br/2011/03/4-imagens-do-ritual-kuarup.html> Último acesso em 21 abr 2012
**Imagem de "Funai - Rituais Xinguaianos". Disponível em <http://www.funai.gov.br/ultimas/noticias/2_semestre_2008/julho/un2008_004.html> Último acesso em 19 abr 2012
QUARUP. Wikipedia, a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Quarup> Último acesso em 19 abr 2012
NOTÍCIAS. Uol. Disponível em <http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2003/07/21/ult27u37050.jhtm> Último acesso em 19 abr 2012
FESTA DOS MORTOS NO XINGU. Editora Horizonte. Disponível em <http://www.horizontegeografico.com.br/index.php?acao=exibirMateria&materia%5Bid_materia%5D=34> Último acesso em 19 abr 2012

sábado, 21 de abril de 2012

Cipó - 2. Ritos - 2.1 Dança da tocandira


Na nossa sociedade, é comum dependermos dos cuidados da nossa família até idade avançada. Uns permanecem com ela por necessidade, outros por vontade. A nossa passagem para a vida adulta há muito perdeu uma idade próxima. Crianças desempenham atividades de adultos, adultos comportam-se como crianças, os valores se perdem e acabamos, muitas vezes, não adquirindo as habilidades necessárias para um desenvolvimento físico e psicológico saudável, que nos proporcione uma visão de mundo mais vasta, nos prepare para a vida em sociedade e nos torne indivíduos maduros e capazes.

Dentre os indígenas o “amadurecimento” do adolescente é marcado por rituais, que muitas vezes testam sua resistência física e fé nos costumes e crenças do seu povo. Conhecidos como rituais de passagem, são realizados conforme tradições que seguem através de séculos, sem mudanças notáveis, e em conformidade com os recursos que a natureza lhes dispõe para a realização. Nos rituais de passagem são usados frutos, corantes naturais, pedaços de madeira da flores, flores, adornos, insetos, partes de animais, instrumentos musicais confeccionados manualmente, entre outros...

O ritual da Tocandira

As formigas tocandiras são recolhidas e guardadas presas no interior de um colmo de taquaraçu, conhecido como tuntum. Permanecem no recipiente por horas, com pouca iluminação e respiração. No dia da realização do ritual elas são jogadas na água para que sejam lavadas e se acalmem. Centenas delas são presas em luvas de palha, com o abdome para dentro (onde fica o ferrão).
São preparadas caças e bebidas inebriantes à base de frutas. Ao se iniciar o ritual, moças e os pais dos rapazes a passarem pelo ritual carregam as bebidas, a comida e as luvas com as formigas.

Jovem Mawé durante o ritual. Na sua mão está a 
"luva" de palha com dezenas de formigas tocandiras.
Os participantes do ritual dançam e cantam ao seu 
redor, enquanto o jovem aguarda que uma moça retire 
a luva e pare as formigas.*
Posicionados em círculo, sentam-se as mulheres no centro, em um círculo menor, e os homens no de fora. O chefe sinaliza o início do ritual, que é conduzido com cantos, assovios e toques de taquara. As luvas com as formigas venenosas são então vestidas nas mãos do rapaz, e atiçadas com a fumaça de um cigarro ou charuto de tauari, fumado pelo chefe. O jovem inicia sua dança, com os aplausos daqueles que compõem o ritual, e esse só será encerrado no instante em que uma moça retire dele as luvas com formigas. Esta será a sua esposa, e então o adolescente agora é considerado um homem, devendo sair da vigília dos pais, os quais perdem a responsabilidade sobre ele. Caso nenhuma moça cumpra com o ritual, o chefe poderá retirar as luvas e libertar as formigas.

O ritual tem como característica a “imunização” espiritual do rapaz. Uma vez que as formigas tocandiras são usadas na medicina indígena para o tratamento de doenças, são tidas como divindades capazes de curar males. Doentes são expostos à sua picada, que inocula ácidos capazes de curar infecções.

A tocandira

Tocandira (Paraponera clavata) com quase
3cm de comprimento.**
A tocandira Paraponera clavata é uma formiga com em média 25mm, de cor preta, hábitos noturnos e presente na Amazônia. É dotada de um veneno extremamente poderoso. No ser humano o seu veneno causa diversas reações, dentre elas: manchas e calombos na pele, dor extrema e profunda, mal-estar, e vômitos. A dor persiste por até 48 horas, se manifestando em períodos constantes.

Recomendações de material





Fonte: JANGADA BRASIL, A dança da tocandira. Disponível em <http://www.jangadabrasil.com.br/revista/setembro104/fe10409.asp> Último acesso em 19 abr 2012
*Imagem de "Blog Guri da Fazenda". Disponível em <http://guridafazenda.blogspot.com.br/2010/08/comemoracao.html> Último acesso em 19 abr 2012
**Imagem de "Bio Mania". Disponível em <http://www.biomania.com.br/bio/images/img_releases/0tocandira.jpg> Último acesso em 19 abr 2012

Cipó - 1. Alimentação e culinária


No ano de 1943, no mês de abril, o então presidente Getúlio Vargas oficializou no Brasil o dia 19 desse mesmo mês como o dia do índio. Esse povo que já habitava o território brasileiro antes mesmo de o Brasil se chamar Brasil e que cuidava do meio em que vivia, já que retirava somente o que lhe era necessário para sobrevivência. Ainda hoje essa relação entre o índio e o meio que em que vive não mudou muito, eles continuam a tomar banhos nas cachoeiras, fabricar seu próprio material de caça e pesca e alimentar-se de comidas extraídas da natureza.

Mulher preparando o alimento a ser cozinhado
Em relação à alimentação, os índios são bastante saudáveis. Há divisões de tarefa por sexo, geralmente os homens caçam e pescam e as mulheres preparam a comida. Sua culinária é composta, na maioria das tribos, de variados tipos de farinha, frutas e suco delas, peixes e animais caçados na mata. Como tudo é natural, a comida indígena não possui agrotóxicos, corantes, realçadores de sabor e afins. Além disso, muitas iguarias têm efeitos medicinais, como por exemplo, a folha de goiaba que serve para cortar a diarreia. Isso faz com que dificilmente o povo indígena tenha doenças comumente encontradas nas grandes cidades, como estresse, diabetes e obesidade.

Para quem ficou interessado na gastronomia saudável dos indígenas, segue uma receita, de nome Mujeca de Goma, criada por Marilda Celma F. Ferreira da Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira – ASSAI, em Manaus – AM:

Peixes e tapioca
Trate o peixe, corte em pedaços e coloque numa panela com água e sal. Ponha no fogo e acrescente algumas pimentas inteiras, só para dar gosto. Quando elas amolecerem, retire um pouco de caldo e algumas pimentas que devem ser amassadas numa vasilha à parte. Depois de amassar bem, recoloque tudo na panela para continuar a fervura. Quando o peixe estiver mole, retire da panela e amasse numa vasilha. Em seguida, devolva o peixe amassado para a panela, deixe ferver por mais alguns minutos. Depois, pegue um pouco de goma, dissolva em água e coloque na panela que está no fogo. Logo que a mistura engrossar, apague o fogo e sirva. Se não tiver goma, pode fazer com a mujeca de farinha.

*Imagens do arquivo da professora Raimunda.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cipó - Apresentação

Em 1500, quando os europeus enfim tomaram o Brasil, suas primeiras impressões a respeito dos índios foram as de um povo selvagem. Resolveram então "civilizá-los", empurrando para eles os hábitos, costumes e religião do europeu.

No entanto, um olhar mais apurado sobre a cultura indígena atual nos revela uma civilização altamente organizada, onde tudo e todos cumprem com funções e "obrigações" a fim de manter o andamento correto do seu sistema social.

As crenças, mitos, culinária, artesanato, dentre outros aspectos, são todos partes harmônicas de uma engrenagem, e permitem a eles manter uma vida em aldeia organizada, além de uma constante e respeitosa relação com o meio-ambiente -lição que nós "civilizados" devemos tomar como exemplo.

Sua relação de respeito não é apenas temor. Veneram, cultuam e vivem ao lado da natureza, respeitando períodos de procriação de animais, de reprodução... Sua agricultura é para seu sustento, sua caça é para alimentação; são livres das ideias consumistas desenfreadas da nossa sociedade.

O objetivo da Cipó é mostrar parte da exuberância e riqueza dessas culturas tão vastas e belas. Convidamos a todos a ler e interagir com a nossa sequência de postagens acerca da cultura indígena, onde exporemos desde ritos e crenças dos povos, a hábitos alimentares e peculiaridades da sua culinária. A Cipó tem a única finalidade de mostrar a cultura indígena, e é requisito para obtenção de nota na disciplina Cultura Brasileira do curso de Comunicação Social - Jornalismo, da UFRN, sem finalidades lucrativas, sob orientação da Professora Maria Iglê de Medeiros.
Agradecemos com muito carinho a Iglê, e também à professora historiadora Raimunda, que tanto nos ajudou e colaborou com a nossa pesquisa.

*Imagem de "WebCiência". Disponível em <http://webciencia.com/09_indios.htm> Último acesso em 20 abr 2012.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

19 de abril - Dia do índio

Por convenção, numa tentativa da sociedade de se redimir pelas barbáries cometidas pelos nossos antepassados, comemoramos hoje o "dia do índio".


É notável a mobilização na sociedade... São feitas propagandas na televisão, na internet e nos jornais as notícias são sobre eles.  Nossas crianças aprendem hoje, mais do que em qualquer outro dia do ano quem é o nosso índio: criatura selvagem, de hábitos repulsivos e costumes duvidosos. Vestem-se de sainha e cocar, quando não andam nus; não conhecem tecnologia... Energia elétrica é bicho diferente. Carregam sempre um arco-e-flecha, pro caso de encontrarem um homem "civilizado" pelo meio da mata, meterem-lhe a flechada no coração.


Se aparecer um avião sobrevoando a sua "oca", os tadinhos atirarão para cima numa tentativa desesperada de derrubar o grande pássaro metálico. Ora, não é pássaro metálico, pois esses selvagens nem sequer conhecem os metais!


Mas se há algo que os índios sabem é dançar. Eita povo boa-vida, passa o dia fazendo festa. Pra tudo tem festa. Há uma esquisitice inegável nessas festas: comem qualquer bicho.


Coisa de gente selvagem comer bicho da mata, pois gente que é gente come animal de corte, como se também não fosse bicho (é produto, não ser vivo).


E a nossa sociedade civilizada, que sabe, alega e bate nos peitos para dizer que a língua é o maior traço cultural de um povo, diz que índio é tudo uma coisa só -falam todos a mesma língua, quando sabem falar.


E esse povo sem civilização, também é sem pátria. Chegaram os europeus aqui e deram nome à terra, trouxeram progresso e civilidade. Ensinaram-lhe os bons costumes, e os que os rejeitassem eram castigados em nome da moral. O Brasil é nosso! É do branco. Índio tem que viver recluso no mato, plantando macaxeira e caçando capivara. Não é povo da gente, é criatura do mato que vive em território brasileiro.


Parabéns a essa exaltada sociedade do conhecimento, onde quanto mais se conhece, menos se sabe. Dia de valorizar o povo indígena e sua cultura não é 19 de abril, são todos os dias. Uma sociedade que não respeita as suas origens nega seu presente, e destrói a história; continuam cometendo um absurdo parricídio.


Dgershon C. Câmara


*Imagem de "Blog do Vinícius". Disponível em <http://viniciusfr.blogspot.com.br/2010/07/novela-e-o-indio.html> Último acesso em 19 abr 2012.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Apresentação

Olá,


Inauguramos com essa postagem um projeto de finalidades incertas, mas que tem muito a dar. Hora, se não se sabe onde se quer chegar, qualquer caminho é válido? Não.


Temos a noção dos melhores meios para se chegar aos objetivos (frisando: incertos), mas o caminho será traçado ao longo do tempo. Somos jovens estudantes de gostos, sexos, crenças, opiniões e personalidades variadas, e nos propomos então a apresentar diversas opiniões e pontos de vista diante de temas variados, sempre respeitando a ética e levando informação de qualidade aos nossos leitores.


Convidamo-lhes a participar e interagir conosco, dando opiniões, criticando (de forma construtiva ou não), apontando problemas e soluções, e o mais importante: mostrando a cara. Vamos levar a cara do mundo pro mundo, colar no Brasil a cara do Brasil, receber da gente o que é da gente.


Junte-se a nós!